No tempo da administração de Jimmy Carter, nos Estados Unidos da América, Paul Theroux decide fazer uma viagem. Na sua jornada o comboio é o meio de transporte seleccionado e acaba por ser o elemento central de toda a obra. Na expedição, o leitor fica a conhecer a realidade de diversos países América Latina de finais dos anos 70, mas não só. O autor, figura principal da trama, relata na primeira pessoa o que é o espírito da aventura, parte da comodidade do seu lar, no Massachusetts, e viaja, durante dois meses, através das ténues linhas ferroviárias da altura, até extremo sul da Argentina.

Em toda a odisseia conhecemos pessoas, percepcionamos a vida de bairros mexicanos, imaginamos vales e paisagens na cordilheira do Andes, temos contacto, inclusive, com um jogo de futebol na distante El Salvador e, acima de tudo, conhecemos o autor no seu íntimo. Para além de observador e testemunha, o leitor acaba por ser um confidente de Paul Theroux, que transmite os seus gostos, sentimentos, impressões, que vão desde as suas preferências literárias até às suas críticas (por exemplo a impaciência para com horários ferroviários).

A obra faz da descrição e do relato o seu ponto forte. As conversas com Wendy ou com o senhor Reiss, mas, sobretudo as discussões literárias com José Luís Borges, estas já em Buenos Aires, enriquecem o livro, pois dão conhecer relatos de pessoas que viviam numa realidade diferente da que Theroux estava habituado.   

Os cinco sentidos de quem lê são despertados através das sábias palavras do escritor, que se revela sincero, honesto e caustico. Para além dos anteriores estados, o autor implicitamente transmite um humor natural, nos seus comentários e análises.

Numa obra sobre uma grande viagem não há nada que seja descurado por Theroux, e se toda a leitura é uma viagem, esta vai mais longe e desperta a vontade de correr para um comboio e viver algo semelhante.